Ajuste de contas,uma história.
Um belo rosto dourado
Pelo calor do sertão
Cabeleira solta ao vento
Chapéu de couro e gibão.
Punhal preso na cintura
Espingarda em sua mão
Traz um colar de dentes
Só que são dentes de gente
De uma infeliz criatura
Que teve um dia o repente
De enfrentá-lo de frente.
Temido em qualquer cidade
Por requintes de maldade
De grande perversidade.
Que sempre costuma agir.
Vai seguindo destemido
Crendo em tudo poder.
Ninguém nesse mundo existe
Que possa lhe destruir.
Um dia a barraca arma
E deita prá descansar
Adormece sem cuidados
Ninguém vai lhe perturbar
Mas vindo do mato espesso
Pequenino animalejo
Escorregadio e ligeiro
Passa e roça o cangaceiro.
É quando ele vira-se rápido
E o bicho com o sobressalto
Volta-se para atacá-lo.
A cobra foge ligeira
Deixando o homem sangrando
Rápido ele amarra o braço
Logo acima da mordida
Depois sugando a ferida
Tenta tirar a peçonha
E a agonia começa
Frio suor lhe poreja
E todo corpo retesa
Os olhos ficam vidrados
E o pulso fica fraco
Até a morte alcançá-lo.
Passam-se algumas horas
Livre do invólucro carnal
Encontra-se o marginal.
Olha seu corpo tombado
Com os olhos esbugalhados
Morrera rapidamente
Vítima de uma serpente.
Ironia do destino.
Um bicho tão pequenino
Matara o grande assassino.
Não entende o sucedido.
É quando divisa um menino
Que está a lhe espreitar.
Chegue logo aqui
moleque!
E pare de me encarar!
Vai gritando autoritário
Para o menino assustar.
O garoto se apresenta
O olha com indiferença
Sem medo algum demonstrar.
Logo o menino esclarece.
Cabra, esse corpo é defunto.
Aqui ele fica no mundo
Enquanto tu és espírito
Que veio a desencarnar.
_Fale a verdade danado!
Espírito desencarnado?
Eu não consigo entender!
_cabra, você é finado!
Insiste o menino em dizer.
_eu sou um espírito errante
Estou esperando voltar
A essa matéria grosseira
E toda uma trabalheira
Para meus débitos saldar.
_quer dizer que estamos mortos?
Eu não posso acreditar!
Continuo com o mesmo corpo!
E o inferno onde está?
_Está em qualquer lugar.
Não há um lugar circunscrito
Está aqui e está lá.
Inferno é um estado de espírito
E é ele que vai te julgar.
_eu sou um cabra da peste!
Sinto prazer em matar!
E onde está a morte?
E os cabras que esfolei?
_alguns andando sem rumo
Outros estão encarnando
E outros mais trabalhando
E muitos, cheios de ódio
Esperam prá se vingar.
_Ah! Continuo com o mesmo gosto!
Comigo não há sobrosso
Recebo com faca e bala
Quem curtir com minha cara!
_taí uma boa piada!
Enfrentar o desafeto
Matéria quintessenciada
Debaixo de tiro e facada
Não é coisa ajuizada.
Neste ponto da conversa
Um falatório se eleva
A poucos passos dali
Os espíritos assassinados
Vieram muito zangados
Atrás das contas cobrarem.
Cercam o espírito culpado
No momento acovardado
Vendo a turba ensanguentada
Que se acercava de si
O espírito bandoleiro
Tentava se evadir.
Depois de sofrer muitas dores
Perseguições, dissabores
Finalmente admitiu
Ser um espírito errado
Sofria por ter trocado
A luz pela escuridão.
Lágrimas correram em suas faces
Até que lembrou Jesus
Pediu perdão finalmente
Jurando eternamente
Servir ao reino da luz.
Para começar a mudança
Teve nova encarnação
Depois da oportunidade
O espírito louva a Deus
E gritava agradecido.
Hoje uma etapa venci!
Graças a Deus minhas faltas
Começam a diminuir!
FIM
Mabel Sales
Mabel Sales
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